Desde a noite de terça-feira, 29 de de outubro, a enchente considerada a pior do século na Espanha, já teve mais de 200 vítimas e dezenas de pessoas desaparecidas. As localidades atingidas ficam próximas à cidade litorânea de Valência, na região Leste, que é a terceira maior cidade da Espanha. A fisioterapeuta Helen Lidiane Schmidt, 37 anos, que é são-pedrense, mora há cinco anos em Valência com o esposo, que é espanhol, e o filho de 2 anos. Helen acompanhou e registrou da janela do apartamento em que vive com a família, no 4º andar de um prédio, o rápido aumento das águas.
“Valência é uma cidade de litoral, não chove muito e quando chove são em pontos isolados, em pouca quantidade. O que aconteceu nessa semana foi que choveu demais em pouco tempo em cidades que são mais altas e estão ao redor de Valência, no interior, e esses locais estavam com o alerta vermelho de que não se podia sair de casa por que ia ter temporal. Nós também recebemos um alerta, só que depois das 20h, comunicando que já estava começando a subir água na rua. O desastre foi maior, com essa proporção, porque ninguém estava preparado. Chegou justo na hora que as pessoas estavam indo embora para casa e pegou muita gente de surpresa”, relata Helen.
Após a diminuição das águas, é possível visualizar a proporção do desastre e as vítimas começam a ser identificadas. Na garagem do prédio em que a fisioterapeuta reside, foram encontrados 08 corpos, sendo uma das vítimas um policial. “As garagens aqui foram muito afetadas, porque são de duas plantas e funcionaram como se fosse um funil. Tudo o que estava na rua, incluindo pessoas, foi para dentro das garagens, E também muita gente que tentava tirar os carros das garagens”, lamenta Helen.
Na região onde Helen mora não houve falta de energia elétrica, água e gás. Mas em outros municípios a situação é de muita dificuldade. “Como são todas cidades pequenas que foram atingidas, a maioria não tem edifícios grandes, então muita gente que mora no primeiro piso, muitas pessoas idosas, foram afetadas. É uma verdadeira cena de terror”, afirma.
A fisioterapeuta conta que teve perdas materiais como carro e moto, mas que os mesmos possuem seguro. Ela também inaugurou uma clínica, há duas semanas, que não foi afetada pelas águas. “É um comércio baixo e fica do outro lado da ponte. Por sorte não atingiu”, afirma.
Na quinta-feira, 01, os esforços das equipes que trabalham no desastre foram para organizar os carros que estão amontoados nas ruas, visando dar espaço para que os caminhões do Corpo de Bombeiros tenham acesso aos locais atingidos e possam retirar os corpos e também seja feita a limpeza das vias com a retirada de entulhos.
“Agora não tem nenhum alerta da polícia, a única coisa que eles pedem é para que as pessoas que estão nas zonas não atingidas não se desloquem para cá, porque está tendo muito colapso de gente nas poucas entradas e pontes pontes que dão acesso às cidades pequenas. Está cheio de gente querendo vir, uns para ajudar outro por curiosidade”, diz Helen.
Em meio ao desastre, gestos de solidariedade trazem conforto e esperança aos atingidos. “Toda a população está se ajudando porque hoje (quinta-feira) é feriado e no sábado e domingo ninguém trabalha. Estou fazendo comida para os vizinhos afetados e lavando as roupas que ainda podem ser aproveitadas dos vizinhos”, relata Helen.
Mais de mil soldados das unidades de resgate de emergência da Espanha estão mobilizados na busca por corpos e sobreviventes.
Por Andressa Scherer Tormes