Tenho assistido aos trabalhos da CPI da Covid que apura as ações e as omissões do governo federal no enfrentamento do coronavirus e eventuais desvios de verbas federais enviadas a Estados e municípios. O fato é que mais de 400 mil pessoas morreram e muitos dos recuperados ainda vão sofrer os efeitos colaterais da pandemia. Isso, simplesmente, não poderá ser varrido para baixo do tapete! É muito sol para pouca peneira.
Pode-se até questionar a oportunidade e a politização de uma CPI, mas, jamais, poder-se-á contestar a sua legalidade. É atribuição e obrigação do poder Legislativo fiscalizar, controlar e investigar, quando for o caso, o poder Executivo. E tanta morte, tanta lerdeza no vacinar, tanta omissão de autoridades, evidentemente, exige um posicionamento do Legislativo. Isso é a essência da democracia. A omissão, o silêncio e a negação só são possíveis numa ditadura! No entanto, é bom lembrar que uma CPI não pode prender ninguém. É consequência de seu trabalho encaminhar os fatos apurados para a polícia e para o Ministério Público que deverão apurar responsabilidades civis e criminais do investigado.
Esta Comissão que poderia, sem nenhuma incoerência, ser chamada de a CPI da mentira, tem lá as suas bizarrices. A primeira delas é a postura impávida de Renan Calheiros, o impoluto relator que, valendo-se que a mesa encobre o seu rabo, fica cutucando o rabo dos outros. Acho eu, e os meus botões concordam comigo, que ele não é a pessoa mais indicada para questionar ou acusar alguém pela prática de sem-vergonhices no gerir a coisa pública. Afinal, pelo que eu sei existem 13 processos correndo contra ele (9 processos do TRF1 e 2 do TRF3). Sem dúvida, estamos diante de um especialista em lesar os cofres públicos que, se não bastasse, é um exemplo vivo de impunidade.
Outra brincadeira de mau gosto, parecendo mais um deboche ao respeitável público, é Ernesto Araújo ter sido Ministro das Relações Exteriores do Brasil. Sem pesquisar muito sobre esta figura, digamos, folclórica, aprontou das suas: quase fez naufragar a política externa brasileira ao alinhar-se, automaticamente, aos EUA de Donald Trump, o que desembocou numa séria crise com a China, nosso maior parceiro comercial e produtor de insumos e de vacinas de que tanto precisamos. Seu comportamento confuso, negacionista, poderia até nos fazer rir. (Ele se empenhou, exemplarmente, para que o Brasil importasse cloroquina da India). Mas, o bom senso ensina, que não se brinca com coisas sérias, como por exemplo, omitir-se na compra de insumos para produzir vacinas (se as temos é por iniciativa do Instituto Butantan) e tirando o dele da reta declarou na CPI que não caberia a ele, um mero ministro, discordar das declarações e orientações de Bolsonaro.
Por fim, senão o Quinha reclama do tamanho do artigo, cabe falar sobre o General Eduardo Pazuello. Para entender o seu empenho em blindar Bolsonaro, assumindo culpas e responsabilidades que se sabe não são dele e, pior, sujeitando-se a ser chamado de mentiroso por Renan Calheiros, fez-me ligar para um compadre que é oficial reformado do Exército. Afinal, o General Pazuello não é um idiota! Na verdade, é um grande contorcionista! É admirável a ginástica que faz para transformar Bolsonaro num santo, numa vítima da imprensa e dos corruptos que querem tirá-lo do poder. (Pode?!!!) A explicação é simples: Pazuello é General e está na ativa e, por força disso, o seu comandante em chefe é Bolsonaro. Até aí tudo bem, mas o problema é que um dos princípios básicos das forças armadas é a lealdade ao comandante. Por isso ele, quando não era investigado, afirmou sorrindo que as relações com o presidente eram simples: um manda, outro obedece.
Pena que ele escolheu defender um projeto de poder e não a Nação como um todo. Afinal de contas, mais de 400 mil mortes não são uma mentira…