Nos antanho, nos felizes anos de minha infância, quando ninguém era coió, as vezes em que precisávamos de médico nos socorríamos do dr. Walter Franz, até porque a sua residência e consultório ficavam em frente à casa de meus pais, ali na Expedicionário Almeida, onde hoje reside e clinica o dr. Edilon Senger.
Lembro que os diagnósticos do dr. Walter baseavam-se em observar a língua e a esclerótica, que os íntimos chamam de parte branca dos olhos. O ritual prosseguia com ele apertando tudo que era lugar do tórax e na barriga, perguntando se doía aqui ou ali. E se a gente tinha dúvidas, ele apertava mais forte o que, no meu caso, para evitar uma pressão maior, já ia confessando onde doía mais. Como sempre, sério e compenetrado, diante do olhar admirado e respeitoso dos familiares do paciente, espalmava a mão sobre o estômago e batia forte com o nó do dedo e, sem estetoscópio, interpretava o som dos toques como se fosse um código Morse. Como o termômetro já era um “equipamento” revolucionário, era usado com a mesma frequência que se aplicava uma injeção de penicilina para debelar qualquer inflamação. E graças aos cuidados do dr. Franz a gente cresceu gordo e, no dizer de minha mãe, lindo. Mãe é mãe! Naquele tempo médico tinha de ser muito bom, pois se fosse traído por seus sentidos, teria de assinar um atestado de óbito.
Os tempos mudaram e hoje os médicos tem um arsenal ilimitado de recursos para diagnosticar desde aneurismas minúsculos até tumores mais complicados que só um tomógrafo enxerga. Hoje os exames de sangue e de urina dizem tudo da pessoa, revelando até coisas muita íntimas e inconfessáveis. Ou seja: quando o médico diagnostica ele não chuta. Acabou a época romântica do achismo em que até os casamentos eram para sempre. Na verdade, os médicos, hoje, tem recursos e condições para realizar, com sucesso, tele consultas e até cirurgias a longa distância. Vejam, o que é o estudo!
Mas, o que eu quero dizer, é que os políticos, em pleno século XXI, juntaram ignorâncias das mais variadas ideologias e cores partidárias para alavancar o obscurantismo, querendo fazer com as políticas públicas o que já fizeram com a lava-jato. Da mesma forma que abriram a porteira para a corrupção, inviabilizaram o senso demográfico. O censo, que teria de acontecer no ano passado, por razões epidemiológicas, foi empurrado para este ano e, no andar da carroça, só Deus sabe quando acontecerá. Significa que, daqui para frente, as políticas públicas serão implementadas ao sabor do achismo, vencendo no grito os que falam melhor e mais bonito.
Para citar apenas um dos problemas criados, os repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que baseiam-se em dados da população, continua patinando com dados de 2010. Suas excelências esqueceram-se que o censo é fundamental para o pacto federativo, inspirando políticas públicas e regulando a democracia representativa, o que se torna possível através da contagem da população.
Para acomodar o orçamento público cortaram a verba do IBGE e passaram ao longe da dinheirama obscena, entre as quais o gasto no fundo partidário e na campanha eleitoral de suas excelências. Merecemos!
