Eu tive um professor muito querido, George Le Brun de Vielmond, que era fanático por crescimento econômico. Nós o chamávamos de Francês, ainda que a mãe fosse alemã e ele tenha nascido numa vila de fronteira, onde uma rua separava a França da Alemanha.
Na guerra, porque achava que a Alemanha venceria, alistou-se no exército alemão. Segundo ele, o seu progresso na vida militar foi um sucesso acachapante. Iniciou como soldado raso e, quase no final da guerra, tornou-se o comandante de seu batalhão. Ao contar esta história ele exibia o seu sorriso maroto e esclarecia tão vertiginosa ascensão: quando foi aprisionado pelo exército americano, restavam cinco soldados no seu batalhão e ele, como cabo, tornara-se comandante! Enfim, ele chegou no Brasil por vias tortas e ficou um tempo no nordeste, onde, entre outras façanhas, tornou-se pai da atriz Renée de Vielmond que na década de 70 fez várias novelas na Globo.
Mas, voltando ao assunto, Vielmond tinha na ponta da língua uma receita para promover o crescimento econômico: desburocratizar a abertura de empresas! Ele tinha pavor de burocracia! Dizia que, para aprender a sofrer na mão burra do governo, o empreendedor teria de experimentar um dos símbolos do atraso, que era como chamava a quantidade de documentos e de providências exigidas para abrir um negócio. Todas para atender ao poder público, poucas para viabilizar o investimento. “É desanimador!” – reforçava ele. Falava também sobre a necessidade de estimular a construção civil, desburocratizando-a. Insistia tratar-se de um segmento que gera milhões de empregos e de renda, com a vantagem de gerar empregos que exigem baixa qualificação e que usa quase nada de insumos importados.
Comparando o jeito Brasil de estimular o crescimento econômico em relação ao europeu, ele falava sobre o absurdo das taxas de juros. Segundo dizia, tudo consequência de um setor bancário cartelizado que usava e abusava da necessidade crônica do governo de captar recursos para financiar o déficit público, a mais escandalosa prova de má gestão e de incompetência gerencial das contas públicas, principalmente, por estimular o patrimonialismo. Aliás, no que o governo sempre teve apoio irrestrito e imoral das corporações que atuam tanto dentro quanto fora da esfera pública. Outra explicação que ele dava para a obscenidade das taxas de juros era o fato de o sistema bancário, historicamente, indicar o Ministro da Fazenda e, por consequência, o presidente do Banco Central.
Afirmava, também, que uma das consequências do baixo desempenho da economia passava pelo abandono do agronegócio. “Um país agrícola” – dizia ele “tem de incentivar a produção, não só subsidiando o crédito, mas melhorando a infraestrutura, principalmente as estradas, a armazenagem, e os terminais portuários.” Também volta e meia lembrava a importância da segurança jurídica, pois “quem empreende a longo prazo precisa ter certeza que as leis não sofram mudanças a cada ano.” Com o ar desanimador, referia-se ao pouco ou quase nenhum estímulo ao avanço tecnológico, imprescindíveis para a eficiência da economia.
O fato é, que lá da década de 70, quando fui aluno do Vielmond, até os dias de hoje, quando virei seu fã, muita água passou pela vida de todos nós. Lembrei dele quando li na ZH a sanção do Governador Leite para um conjunto de leis para estimular o empreendedorismo. Importante salientar o apoio da Assembleia Legislativa, pois se continuasse a ideologização e a grenalização dos posicionamentos de nossos deputados, continuaríamos a sofrer as consequências do brincar de governar, agora agravado pela pandemia.
